Pesquisar este blog

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Todo cristão tem o dever de julgar, sim! (1)


Lembro-me bem  durante o curso  de psicologia  quando os  professores  lutavam para tirar dos discentes os vícios que estes traziam consigo de confundir psicologia com aconselhamento. Lembro-me inclusive de uma colega que era esposa de pastor e afirmou que somente estava ali para apanhar seu diploma porque ela, já formada anteriormente em Serviço Social, já ajudava seu marido em seu ministério na área de aconselhamento. Ora, quem conhece psicologia sabe que “ouvir as lamentações da outra pessoa e dar-lhe um conselho”  nada tem a ver com psicologia.

Agora, difícil é quando temos de trabalhar isso na igreja. Lá, existem uns “vícios” que parece que ninguém tira, aquelas “coisas que tudo mundo acredita que sabe sobre Deus, bíblia e igreja”. Coisas como: “Deus escreve certo por linhas tortas”; “Deus mesmo disse: faça por onde que eu te ajudarei”; “Deus tarda mas não falha”; “O cair é do homem, mas o levantar é de Deus”. Ah, aquela da bíblia da Gretchem também é ótima: “venha a mim como estás e eu farei a obra” (ela jura, de pés juntos, que na bíblia dela está escrito isso - veja o vídeo aqui).

Hoje, a que mais ouvimos em nosso meio é aquela: “não julgueis para que não sejais julgados”. E qual é o problema? Essa é bíblica! Concordo, só não concordo é o contexto onde tentamos aplicar um conceito, um ensino tão precioso de Jesus. Colocamos uma postagem no blog e pode esperar, é batata! “Olha, vocês estão tocando no ungido do Senhor” (isso vai merecer um capítulo à parte); “parem de julgar a igreja dos outros”; “não julguem para que não sejam julgados”.

Pelo amor de Deus, parem!  Isso cansa! E outra coisa,  não coloquem palavras na boca de Jesus, palavras que ele não disse e pior, indo muito além daquilo que ele disse ou pretendia dizer, relativamente ao significado ou aplicação do seu ensino.

Muitos cristãos infelizmente tem se calado, pois, como todo mundo no meio cristão entende “pra caramba”  de bíblia e teologia, existe um conceito, que a maioria acha indiscutível, de que não devemos julgar nada, que não é o nosso papel estar julgando as pessoas e aquilo que elas fazem, especialmente as igrejas e seus líderes, mesmo quando está claro que o comportamento de um ou de outro está em confronto com as verdades das Escrituras.

Existem algumas passagens Bíblicas que muitos Cristãos interpretam de maneira equivocada e a passagem de Mateus 7, que trata a respeito do julgamento é um caso clássico. Meu compromisso aqui, tomando esta passagem como exemplo,  é duplo: mostrar aos leitores e seguidores deste blog como nós podemos errar em nossa interpretação de determinada passagem bíblica; e segundo, esclarecer a mente dos irmãos, desfazendo a idéia de que não podemos julgar determinadas atitudes de outros irmãos. De outro modo, não devemos é nos calar de forma nenhuma, mas temos a obrigação de exortar e lutar pelo Evangelho verdadeiro, puro e simples de Cristo, 

“Não julgueis, para que não sejais julgados.” Mateus 7:1

O que é preciso ficar claro de uma vez por todas é que Jesus não proíbe o julgamento, mas somente um certo tipo de julgamento. Contudo, para entendermos isso melhor precisamos aplicar a regra fundamental para o exame de um texto. Repare que acima eu coloquei somente o primeiro verso do texto em análise. Nesse caso, somente com uma boa exegese poderemos realmente conhecer o significado de “Não julgueis para que não sejais julgados”. Precisamos analisar o contexto da passagem citada para podermos  saber do que trata a mesma.  Se atentarmos somente para o verso 1 de modo algum conseguiremos responder a este questionamento.

“Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão”. (Mt 7:2-5).
Examinando a questão do julgamento, no contexto em que Jesus o trata, vemos claramente que Ele proíbe especificamente o “julgamento hipócrita”. Jesus diz no verso 1 que eles não devem julgar. Na seqüência, na continuação de seu ensino (o que parece que quase ninguém se preocupa em aprender, pois, já aprendeu que não se deve julgar), Ele dá a razão pela qual os judeus não deveriam julgar: o padrão que eles usam para julgar os outros será o mesmo padrão que os outros usarão para julgá-los. Eles não deviam ignorar seus próprios pecados, enquanto condenando os mesmos pecados nos outros. Fazer isto é usar pesos e medidas diferentes, um para o outro e outro para si. Agindo assim, julgamos  hipocritamente.

Repare que as duas pessoas estão em pecado e de natureza semelhante, sendo que aquele que se julga no direito de ajudar o outro é o que está numa condição pior: ambos têm um pedaço de madeira no olho naquele momento do discurso de Jesus. A diferença entre as suas faltas está no tamanho. É muita hipocrisia de um irmão querer julgar e condenar a outro quando ele mesmo é culpado da uma falta idêntica e numa intensidade muito maior que aquele que ele julga.

Concluímos que, de acordo com o contexto de  Mateus 7:1, o cristão não está proibido de todo tipo de julgamento, mas somente aquele for hipócrita e leviano. O texto diz: "tira primeiro a trave do teu olho e então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt 7:5). Repare, então, que Cristo orienta que somente após nos arrependermos e nos livrar-nos de nossa falta estaremos em condições de ajudar o próximo a também se livrar da sua e a mudar. Além disso. o tempo todo Jesus fala que o processo  de juízo e ajuda envolve "irmãos", isto é, um cristão julgando o outro, o que é perfeitamente possível  e correto, desde que aquele que julga esteja apto para isso não praticando a mesma falta que aquele que é julgado comete.

Resta-nos a seguinte questão: mas será que temos de Jesus licença e autoridade para julgarmos as práticas de outro cristão que age com um coração sincero e cheio de boas intenções? Primeiro, não se pode, nem com toda a boa intenção do mundo, deturpar o evangelho, ensinar heresias e afastar o homem da salvação que somente é operada por meio do verdadeiro evangelho. Segundo, Deus nos dá, conforme analisamos acima, autoridade para julgarmos quando nós mesmos não incorremos na mesma falta. Contudo, devemos sempre nos lembrar que tal autoridade se limita às ações e práticas (refutar os que se opõem à sã doutrina; Tito 1); e aos pecados e erros (quando nossa intenção é ajudar ao irmão e não condená-lo; Mateus 7.1-5). Já quanto às intenções e motivações das pessoas, quanto a isso, somente Deus pode ser Juiz.

                                                                 pastor Márcio.

Deixe seu comentário.

0 comentários:

Postar um comentário