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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DA SÉRIE: TIPOS DE TEOLOGIA

TEOLOGIA CIRCENSE (1) - CAIR NO ESPÍRITO 


    Temos visto tantas igrejas da nossa denominação envolvidas com esta palhaçada chamada de "unção do paletó", "cai-cai", "cair no espírito" etc., que só pelo sentido pejorativo da maioria dos nomes já dá para se ter uma idéia do tipo de coisa que estamos falando, o que tem nos causado tristeza.

Antes de tudo, é bom que se esclareça que este circo começou em Toronto, no Canadá, na década de 90. Notem que, como  quase tudo o que se pratica por aqui em nosso evangelicalismo tupiniquim, esta é mais uma invencionice importada. Contudo, o pastor Goolsby, um dos líderes do movimento na época, já veio a público se desculpar e desmentir que tenha sido obra de Deus o que ocorrera na igreja do Aeroporto lá pelos anos de 1994. Disse ele que tudo foi inventado pela liderança para atrair pessoas e recursos, e que sabe do prejuízo que isso causou ao evangelho, de como está arrependido por ter contribuído com isso. Mas, pelo jeito, aqui ninguém ta muito interessado nisso, não é? Ao contrário, o que não falta é defensor para tal aberração.

 Os apologistas da tal teologia, na defesa de sua “exejegue” citam textos como o de 2 Crônicas 5.14 e 1 Reis 8.10,11 e dizem, arvorando-se de razão, em suas “ministrações proféticas e apostólicas”: “vejam irmãos, os sacerdotes não resistiram a glória de Deus e caíram no poder”. Aí todo mundo dá brados e brados de aleluias e “oh! glórias!”.  Mas veja o que a Bíblia realmente diz: “E sucedeu que saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR e estes não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a sua casa” (1 Rs 8.10,11).



Infelizmente, a frase “não podiam ter-se em pé” tem sido entendida como “caíram no poder”. Mas ela, na verdade, denota que os sacerdotes “não puderam permanecer ali”, notem o que está sublinhado acima: “por causa da nuvem” não havia como fazer nada ali no Santuário. Se o irmão se dispuser a pesquisar em outras versões, especialmente na Revista e Atualizada vai descobrir que, na verdade, os sacerdotes  não suportaram permanecer no local ministrando! Não que eles tivessem “caído no poder”. É como quando o irmão não suporta mais ficar de pé porque o louvor em sua igreja está muito demorado e se assenta;  você não cai, mas não pode mais ficar de pé. Acredite irmão, essa  teologia é falha, distorcida e absurda e  tal doutrina deve ser expurgada do nosso meio e que isso em nada tem contribuído para a edificação do reino de Deus.


Assim amados, creiam, não há nenhum fundamento para o “cair no poder”, “cai-cai”, “unção do paletó”, “benção de Toronto”  ou qualquer outra coisa  neste sentido na bíblia. O Senhor Jesus nunca derrubou ninguém. Paulo caiu no caminho para Damasco mas, não perdeu a consciência, tanto é que, mais tarde, em Atos 16 ele mesmo relata sua experiência e diz inclusive como os demais que estavam com ele se sentiram. Além do mais, Paulo estava viajando a vários dias, não era uma pessoa ainda convertida e depois de sua experiência, nunca mais caiu e foi profundamente transformado. Processo semelhante aconteceu com João, na Ilha de Patmos (Ap 1), que já bastante idoso, caiu mas não perdeu sua consciência. Posso concordar perfeitamente que, pelo impacto emocional, em função de fatores como cansaço, idade ou pela surpresa do momento diante da Glória da presença de Deus possamos vir a cair, como Paulo ou João, mas sem perdermos a consciência.

Paulo nos orienta a prestarmos um culto racional (Rm 12.1)), a oramos e a cantarmos com o espírito mas também com o entendimento (1 Cor 14:15). Quando Jesus teve seu encontro com o endemoniado de Gadara, repare que quem jogou o endemoniado no chão foi satanás, não Jesus (Lucas 4.35), sendo que o mesmo tipo de experiência se repete em Marcos 9.17-27 com o jovem lunático: é satanás quem o joga no chão, não Jesus. Contudo, nos dois casos Jesus o repreendeu e com certeza isso nunca mais viria a acorrer com estas pesoas.

Acho que alguns dos nossos pastores deveriam repensar suas liturgias e doutrinas. Como batistas, de tradição reformada, deveríamos todos andar de um mesmo modo, todos debaixo da graça que nos salva por meio da fé, lutando em defesa do evangelho puro e simples, sem mágicas, sem palhaçada, sem circo, mas aquele que faz com que as pessoas o sigam somente por seu tesouro mais precioso que é o próprio Cristo. Mas isso não enche (incha)  igreja não é? Nem gazofilácio!
        
                                                                      Pastor Marcio

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3 comentários:

  1. Algumas coisas são espirituais, outras naturais...

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  2. - Útil e providencial é este seu comentário Pr.Marcio, pena que este tipo de exagero manifestado dentro de muitos templos evangélicos tenham tirado e ofuscado de muitos a verdadeira função do evangelho de Cristo, creio que o evangelho de cristo não é feito de sensações e motivações estranhas ao bom desempenho e desenvolvimento do culto.

    - É estupidez agir de maneira como se o evangelho de Cristo possa se torna em um show verdadeiro espetáculo, destruí-se todo o cerimonial litúrgico a bem de uma fantasia estúpida e irracional isto não é correto; - Quero também frisar que possuímos outras tantas aberrações, não é verdade Pr. Marcio, que precisam ser erradicadas de dentro dos nossos templos.

    - Tudo o que vemos é uma estupidez e de uma perversão que não existem palavras que definam este abuso; É uma pena que muitos ainda negam a verdade e derramam o sangue precioso de Cristo, escarnecem de seu sacrifício e ainda dilaceram a sua carne fazendo Cristo padecer terríveis dores, ainda tornam inútil o sacrifício da cruz, o qual fora realizado a duro custo.
    Smodger Silva

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    1. Acredito, caro Gregor, que quando Paulo fala em Colossenses 1.24, sobre o sofrer no seu próprio corpo o que resta das aflições de Cristo Jesus por amor do seu corpo, que seja de algo próximo disso de que fala. Como deve ser triste para Cristo ver uma igreja tão deformada, tão vazia e desviando as pessoas cada vez mais pelos atalhos na busca do caminho que leva ao céu, Paulo evitava escandalos,tropeços, dissensões, frivolidade, qualquer coisa que parecesse com igreja ou com o evangelho, mas que não fosse veradeiro, que anulasse a cruz, que fosse outro evangelho e,por contingência,trouxesse tristeza para Cristo.
      Fique na paz!

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