MARCHA PARA JESUS EM CAMPOS DOS GOITACAZES

JESUS: POR AMOR DE TI, NÃO POSSO ME CALAR!


 

   Já se tornou uma febre, uma pandemia: por todo o Brasil, em todas as cidades, é marcha para todos os gostos. Umas são legitimas e oportunas, outras, nem tanto. Mas todas estão sustentadas no mesmo princípio constitucional, o direito de expressão. No fim, todas as marchas têm o mesmo objetivo: demonstração de força pela união de determinada classe, entidade ou de pessoas que comungam de um mesmo desejo, sentimento ou ideologia.

A parada gay tinha o objetivo de  exigir respeito, dignidade e garantia de direitos aos gays e afins como qualquer outro cidadão. Ano após ano a parada foi tomando outro rumo que a afastou completamente dos seus ideais. Sofreu uma “metamorfose ambulante”, tornando-se uma coisa grotesca e anárquica, cheia de exibicionismo, atentado ao pudor, baixaria e hostilidades contra qualquer um que se opõe à cultura gay. 

O desfile da independência talvez seja a mais conhecida e tradicional marcha que temos em nosso país. No dia sete de setembro celebramos a independência do Brasil do jugo de Portugal. Como lembrança de um fato político e histórico importante, faz todo sentido, mas quando refletimos sobre o quanto somos escravos de uma dívida externa estratosférica e impagável e de um sistema de impostos e taxas de juros que nos eleva a condição de primeiro do mundo neste aspecto, ficamos pensando se vale realmente à pena marchar pela liberdade.

Existem tantas que dissertar sobre todas demandaria muito tempo a começar pelo estudo de suas ideologias e das contingências de uma possível conquista, sob  os mais variados aspectos: implementação, gerenciamento das conseqüências e impacto social: marcha das vadias, marcha da maconha, dos sem-teto, dos sem-terra  e por aí vai. Contudo, se uma ou outra marcha já alcançou em outra época o status de legitimidade em função de sua ética, ideologia  e propósito não é o caso das nossas “marchas para Jesus”, muito menos essa que realizamos todos os anos em nossa cidade.

Primeiro, em toda e qualquer cidade do país, absolutamente sem exceção, a marcha para Jesus acontece quase que simultaneamente ao principal evento católico da cidade – ou seja, se eles podem, nós também podemos; se é para demonstrar força, vamos mostrar a  nossa também através da nossa “procissão”. Deus não precisa da nossa defesa, quando Pedro tentou defender a Jesus, puxando de sua espada, ele imediatamente o impediu que assim o fizesse. Além disso, os católicos não são rivais ou inimigos, nem dos evangélicos e muito menos de Deus.

Segundo, a principal e mais conhecida das ”marchas para Jesus”, aquela liderada pelos apóstolos, patriarcas, bispos entre outros megalomaníacos paulistas que exploram a espiritualidade (e a carteira) alheia, surgiu em resposta à conhecidíssima Parada Gay, e da mesma forma,  acontece  simultaneamente à mesma como forma de provocação ou aferição de força: dinheiro público, direito de se apresentar na avenida paulista, tudo igual para os dois. Ou seja, se eles (ou elas) podem, nós também podemos. Mais uma vez, os crentes superpoderosos saindo em defesa do fraco e oprimido Jesus.

Terceiro, em todos os lugares, em qualquer tempo, disfarçada sob a ótica de uma ideologia qualquer, as marchas tem se prestado ao mesmo papel: demonstração de força política, da capacidade de um ou outro oportunista de plantão de deixar claro para as autoridades políticas o seu poder de influenciar e mobilizar um grande numero de pessoas. Assim como qualquer outro líder de UNE, de Central Sindical ou de Associação de moradores, não vai demorar muito para vermos os nossos idealizadores da “marcha para Jesus”  aqui em Campos dos Goitacazes, empossados em seus cargos políticos, eleitos ou nomeados para cargos em comissão ou de acessoria.

Quarto, a marcha chama a atenção para si mesma, para os conceitos dos crentes, suas ideologias, enaltece sua cultura, seu gueto, seus modismos, esta preocupada e voltada para seus próprios interesses. Jesus disse aos discípulos certa vez que nem comida era mais importante para Ele que fazer a vontade do Pai.

Quinto, na onda do sex shop  gospel, ator (e atriz) pornô gospel, axé gospel, pagode gospel, bar gospel, arrocha gospel, hip hop gospel, funk gospel e etc. gospel, vamos atrás desse carnaval fora de época, dessa gospel folia ou, como disse Carlos Moreira,  dessa “micareta  evangélica”. É Jesus convertido, é o evangelho transformado, é vida cristã às avessas. É simples: é tudo o que eu gostava de fazer antes: luxuria, samba, carnaval, forró etc.,  só que com outro nome. Creio que o mandamento de não usar o nome de Deus em vão comporte um ensinamento muito mais abrangente, mas que usar seu Santo nome para espiritualizar aquilo que não é espiritual se enquadre perfeitamente na inobservância do mandamento, nisso eu também creio. Pilatos perguntou, sem saber o que fazer: “ O que faremos então a esse Jesus, chamado Cristo?”. Ah..., se fosse hoje, olha só que  monte de coisas poderíamos fazer com ele, não acha?

Por último, terminamos, como sempre, com um “show gospel”. Não venha chamar de culto que não dá para engolir sem mastigar! Se não, vejamos: som alto e de preferência num ritmo dançante (rock, samba, funk etc),  luzes coloridas, paquera, diversão, gritos e assovios. No culto, há ordem e decência, há reverencia. Além disso, a pessoa mais importante no culto é  Deus, não um artista que usa o talento que Deus lhe deu (que nem sempre é um dom espiritual) para se sobrepor aos demais falando e agindo, como li de um certo pastor “como se uma nuvem de transcendência divina repousasse sobre ele”.

O show, que funciona como uma “segunda via” do movimento das marchas, serve para consolidar, para legitimar a carreira (ops! o ministério) dos modernos mercadores da fé e lançar outros no mercado. São  profissionais da arte musical, não adoradores!  São cantores e cantoras “gospel” , gente que encontrou na igreja  o caminho para o enriquecimento à custa da espiritualidade dos irmãos.

Para se apresentar nas marchas para Jesus, no Raul Gil, na Eliane etc. não cobram nada porque acreditam que isso os promove. Agora, experimenta chamar para ir à sua igreja! São “artistas”  que fazem exigências comuns à classe: que não aceitam fazer uma refeição ou se hospedar na casa de irmãos; comem apenas em restaurantes e repousam em hotéis exigindo sempre que tenha um por perto, caso contrário, nada feito. Além disso, não aceitam o convite se a igreja for simples, inexpressiva, da roça (segundo os empresários, isso “queima o filme”, rebaixa, diminui). Ah, e tem o seguinte: até um ou dois anos atrás, só para o artista principal, o cachê girava em torno de 25 a 45 mil reais. Em 2011 a que altura essas cifras não devem ter chegado?

As prostitutas e prostitutos cultuais existentes em Canaã foram incorporados ao culto de Israel por Jezabel quando esta se casou com Acabe. Contudo, o Senhor nosso Deus já havia se antecipado e recomendando a Moisés que isso poderia acontecer , mas que deveria ser evitado: “Das filhas de Israel não haverá quem se prostitua no serviço do templo, nem dos filhos de Israel haverá quem o faça”  (Dt 23.17). Acredito que, da mesma forma,  apesar de o sexo se limitar às paqueras, aos “amassos” e aos “ficandos”, show no lugar de culto, é prostituição, artista que não é adorador é prostituição, pois nada disso se refere a pessoa em si, mas a Deus, ao seu povo e à sua casa. Se não é do seu Jeito, se a honra e a glória não são Dele, se os fins são escusos  e interesseiros, é prostituição espiritual.

Pelo jeito, o que atrai realmente as pessoas é o oba-oba. Elas vão para assistir aos astros da música gospel, ou simplesmente para extravasar – em psicologia chamamos isso de “catarse”. Longe do tradicionalismo, do moralismo farisaico de sua denominação, do julgamento e da disciplina quase carcerária dos seus diáconos e presbíteros, os jovens podem extravasar sua “alegria na presença do Senhor” com outras formas de culto, liturgia e expressões de louvor.

Como disse um certo pastor entrevistado no “show gospel” na Avenida Pelinca, aqui na cidade, no último fim de semana, falando acerca dos ritmos musicais: “O povo de Deus é um povo feliz, é um povo alegre”. Concordo pastor, feliz, alegre, mas também  liberto, transformado e inconformado com este mundo. A alegria do povo de Deus nada tem a ver com ritmos musicais. A questão é um pouco mais profunda: não acredito em ritmo do diabo, se um crente consegue, independentemente do ritmo executado, abstrair-se do contexto, adorando sinceramente a Cristo, tudo bem.  Contudo, fica a dúvida: será esta realmente a proposta, ou será que se trata simplesmente de uma porca voltando ao espojadouro de lama ou do cão que volta ao seu próprio vômito?

Como vimos, a marcha campista, terra dos índios goitacá e do político que nunca cresce, não fugiu à regra. Por enquanto só temos uma para rivalizar com os católicos. Agora, espera só a militância gay aqui da cidade organizar a sua marcha. Aí amado, um CEPOP só vai ser pouco!

Ano que vem tem mais!

É isso que eu penso! Você pensa diferente? 

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